Um safari a pé numa reserva como a de Madikwe, na África do Sul, onde existem leões, rinocerontes e tanta vida selvagem, pode parecer uma aventura de loucos, mas é uma experiência tranquilizadora, um reavivar da nossa ligação à natureza.
Estamos a chegar ao fim desta viagem (ver Parte 1, Parte 2 e Parte 3) e vamos fazer um ‘bushwalk’ ao nascer do Sol, guiados por Ernie.
Em vez de uma chamada telefónica, o serviço de despertar no Royal Madikwe Luxury Safari Lodge é um leve toque na porta e uma voz a dizer-nos que é hora de acordar. Um suave despertar para uma manhã fria, que se torna mais confortável logo que agarramos uma chávena de café quente e biscoitos.
Subimos ao jipe descapotável e contrariamos o frio enrolados em mantas, com sacos de água quente ao colo. Seguimos assim para a savana, a ver o Sol aparecer no horizonte.
Paramos num planalto e descemos para iniciar o safari a pé. O Ernie explica-nos as regras para caminhar em segurança. Vamos em fila, próximos uns dos outros, em silêncio. A regra de ouro é nunca correr.
A verdadeira sensação de perigo atinge-nos quando o Ernie começa a explicar como usar a arma, para o caso de acontecer alguma coisa e ficar impossibilitado de a utilizar. Mas tranquiliza-nos de imediato, dizendo que ele próprio nunca teve necessidade de usar a arma, muito menos um dos seus turistas.
Nos primeiros dez minutos da caminhada, questiono-me sobre a ideia de estar ali, a caminhar numa reserva cheia de animais selvagens, cheia de predadores. A certeza de que se trata de uma loucura ocorre sobretudo nas zonas de mato mais denso. Nas planícies abertas é possível relaxar, mas no mato cerrado é inevitável imaginar que na próxima abertura na vegetação poderá estar um leão deitado, que decerto aproveitará a nossa passagem para se alimentar.
Avançamos em silêncio e, à medida que prosseguimos intactos e sem encontros inesperados, torna-se cada vez mais certo que o nosso guia Ernie sabe que a zona é segura para caminharmos. Está atento às pegadas e ao movimento das aves.
Paramos para observar aranhas de cores garridas e as suas teias fortíssimas, que podemos puxar como a corda de uma guitarra e continuam intactas. Mais à frente, paramos novamente para ver as bolas de excrementos feitas por escaravelhos, abrigos perfeitos que constroem para pôr ovos.
O Ernie faz sinal para pararmos mais uma vez e aponta para o chão. Primeiro não percebo para onde estamos a olhar. Só depois vejo que são pegadas de elefante, tão grandes que se confundem com o resto da terra fina remexida.
Levanto a cabeça e lá estão, ao fundo, os elefantes. O Ernie explica o plano. Vamos contornar aqueles arbustos e aproximar-nos pela lateral. E é o que fazemos até ficarmos a 50 metros dos três enormes mamíferos.
Ali ficamos um tempo, a sussurrar o nosso espanto e a desfrutar do privilégio de ver os gigantes da savana africana no seu ambiente natural. Alimentam-se do que a natureza lhes dá, como o homem em tempos fez e talvez por isso seja tão grande a ligação entre nós e a cena a que assistimos.
Se viajar serve para nos conhecermos na observação dos outros, uma viagem para uma reserva como esta mostra-nos o nosso lado primitivo, relembra-nos a simplicidade da nossa existência, das necessidades mais básicas que temos que satisfazer e da sua importância em relação ao resto, ao trabalho, à política, às guerras, modas e tecnologias.
A caminhada prossegue durante uma hora, num percurso de cerca de cinco quilómetros. Sem perceber como consegue o Ernie orientar-se naquela imensidão, encontramos o jipe onde o deixámos, numa planície aberta.
E chegou o momento de repor energias. O Ernie levanta a grelha do jipe que se transforma em mesa e faz café para bebermos com Amarula, um licor de creme, que transforma aquela bebida numa espécie de galão ligeiramente alcoólico e suavemente adocicado.
Foi apenas um aperitivo. No Royal Madikwe Luxury Safari Lodge espera-nos uma mesa cheia e colorida, com vista para o lago, onde estão elefantes a beber água. Iogurte, granola e fruta, café e ovos benedict, tudo isto com a paisagem viva que é aquele lago. Depois dos elefantes chegam os javalis, depois os búfalos, as girafas e outros.
Continua: Parte 5
Para ver clique: Parte 1 , Parte 2 e Parte 3
O PressTUR viajou a convite do Turismo da África do Sul