O XIX Congresso da ADHP debateu as “Novas Tendências do Talento na Hospitalidade”, destacando a necessidade de ouvir (Listen) as gerações mais novas, ser transparente nas ofertas de trabalho e promover um bom ambiente e condições de trabalho (Walk the Walk), oferecendo (Give) condições de trabalho dignas.
Este painel contou com moderação de Mano Soler, da escola Les Roches, e a participação de João Vieira, director de recursos humanos do Corinthia Hotel Lisbon, de Madalena Carey, directora na Hapiness Business School, e Rosário Pinto dos Santos, hospitality recruiter da Stamina Hospitality.
Crescer mais e melhor
Mano Soler começou por afirmar que a oferta de emprego está cada vez mais global e existe uma maior diversidade de sectores dentro do turismo, seja na área do desporto, dos eventos, dos parques temáticos, etc. No futuro, Soler prevê que a ‘hospitality’ não será uma indústria, mas sim algo que é intrínseco a uma série de indústrias.
As oportunidades de emprego na hotelaria estão cada vez mais próximas de se posicionarem em dois pólos de actividade: os hotéis que oferecem o serviço básico de estada e pequeno-almoço e os de high-end luxury.
Para o profissional da Les Roches, a nova geração de trabalhadores tem expectativas de emprego específicas e é necessário perceber o que precisam para ter um bom rendimento.
A inovação tecnológica é também uma das tendências e Mano Soler afirma, em linha com o que tem sido mencionado por outros oradores do congresso, que é uma mais-valia para optimizar processos repetitivos e libertar as equipas para estarem mais próximas do cliente.
O medo do colapso da indústria é outra das tendências que surgiu com a pandemia, devido ao facto de o sector ter sido ‘encerrado’ quase totalmente.
Mano Soler sublinha que estamos num momento de crescimento na indústria, e que este é o momento para garantir que a indústria cresça não só mais como também melhor, tendo em conta todas as pessoas intervenientes, relembrando que é “uma indústria das pessoas para as pessoas”.
Ofertas de trabalho honestas e transparentes
João Vieira, Corinthia Hotel Lisbon, nas suas intervenções, salientou a mais-valia de trabalhar em diferentes áreas, dentro ou fora da hotelaria, de forma a ter uma perspectiva de abordagem diferente. Deu o exemplo de que um caixa de banco funciona actualmente como um vendedor, algo que pode ser transposto para um barman, que com outra experiência, não se limita a preparar bebidas.
Em relação à falta de mão-de-obra, João Vieira afirma que “não é uma questão nova” e que não deve ter resolução tão cedo, visto que a pirâmide etária indica que cada vez vão existir menos jovens e cada vez as pessoas vão trabalhar até mais tarde, e isto torna difícil encontrar talento.
O executivo sugere à indústria hoteleira que faça uma abordagem de captação de pessoas mais jovens, incluindo no ensino secundário, à semelhança do que fazem outras indústrias. Outra das sugestões do profissional do Corinthia Lisbon é que a hotelaria deve ir buscar mão-de-obra a outras indústrias, nomeadamente a algumas que vão perder trabalhadores devido à inovação tecnológica. No entanto, Vieira afirma que as empresas do sector do turismo que fazem o “talk the talk”, também têm de fazer o “walk the walk”. Ou seja, é necessário promover as ofertas de trabalho de uma forma honesta e transparente.
Em relação às condições de trabalho, Vieira afirmou que há sinais positivos como a agenda para o trabalho digno, que descreve como um projecto europeu que vai trazer cerca de 70 alterações ao código de trabalho e que devia ser “implementado amanhã”.
A motivação intrínseca de cada um
Para Madalena Carey, da Hapiness Business School, o importante é “alavancar culturas de trabalho positivas que geram talento” e que geram também carreiras com mais significado.
Madalena Carey afirmou que as novas gerações querem “qualidade de vida e viver com propósito, trabalhar para uma indústria e organização com os quais se identificam a todos os níveis, e é isso que temos de fazer, compreender o que é a motivação intrínseca de cada um”.
Além dos estímulos salariais, é necessário perceber como é que o empregador consegue ser mais atractivo para os seus trabalhadores, tanto a nível de flexibilidade como de carga horária. É necessário ouvir essa geração de futuros profissionais, frisou a executiva.
A directora da ‘escola da felicidade’ afirmou que “a falta de saúde mental” é o “principal flagelo do século XXI”, partilhando dados que indicam que “89% dos portugueses sente ansiedade devido ao trabalho todas as semanas, incluindo ao fim-de-semana”.
Directores como gestores
Rosário Pinto dos Santos, da Stamina Hospitality, destacou a necessidade de proporcionar um ambiente de trabalho positivo e atractivo para os profissionais, lançando uma questão: “já que somos tão bons a proporcionar felicidade aos nossos clientes, porque é que estamos preocupados e com dificuldades em encontrar pessoas para trabalhar connosco se sabemos fazer pessoas felizes?”.
A executiva da Stamina Hospitality sugeriu que os directores de hotel tenham uma postura de gestores e que tenham capacidade de observar o desempenho e a satisfação dos seus funcionários: “é bom olhar de fora para ver o que está a acontecer”, de forma a passar essa informação aos executivos e dessa forma fazer o acima mencionado “walk the walk” do topo da pirâmide para baixo.
O PressTUR participa no Congresso a convite da ADHP
Ver também:
Congresso da ADHP: “A Importância dos Dados para Cenários Previsionais”
Congresso ADHP: Painel “Gestão na Incerteza” realça a importância do capital humano