Com menos oferta em relação ao ano passado, o director do operador turístico Nortravel, Nuno Aleixo, descreve que o Verão como desafiante, mas positivo, equilibrado entre um Julho “penoso” e um Agosto com “ocupações elevadas”.
Em entrevista ao PressTUR, o executivo destacou os crescimentos da procura pelos Açores e pela Turquia, e a liderança destacada dos programas para Cabo Verde na lista dos mais vendidos pela Nortravel.
PressTUR: Que balanço faz deste Verão?
Nuno Aleixo: Quando fazemos a análise do mesmo produto disponibilizado em 2024 e em 2025 tivemos um crescimento de vendas. Mas em 2024 tivemos produtos que não transportámos para 2025, devido a dificuldades técnicas. Por exemplo, em 2024 fizemos uma operação charter para Dubrovnik, que tem de grandes volumes de facturação, e não fizemos em 2025. E também não fizemos o charter de Malta.
PressTUR: Porquê?
Nuno Aleixo: Por questões operacionais. Não conseguimos hotelaria que nos desse cobertura. São destinos com uma pressão muito grande na época alta. A Croácia é dos países que mais cresceu em turismo nos últimos anos, até mais que Portugal. Há muitos europeus que vão de carro à Croácia. Temos ali alemães, austríacos, húngaros. Condiciona muito a disponibilidade de alojamento. Não o fizemos por esse motivo.
PressTUR: Os hotéis preferem vender directamente do que negociar com os operadores?
Nuno Aleixo: Sim. E mesmo com os operadores temos outra situação. Os hotéis têm outros mercados que lhes dão trabalho de Maio a Outubro. E aí voltamos ao problema da sazonalidade dos portugueses, que, para alguns destinos, viajam praticamente só em Julho e Agosto. Esse foi um dos principais motivos porque não realizamos a operação de Dubrovnik. Estamos a falar de pacotes que rondavam os dois mil euros, ou mil e muito. Ao não termos esses produtos, já sabíamos que em 2025 não teríamos essa fatia da facturação. E o charter de Malta também não operámos por dificuldades hoteleiras.
PressTUR: Então, a Nortravel acaba por ter uma quebra de passageiros e de facturação em relação ao ano passado, porque no ano passado tiveram Malta e Dubrovnik e este ano não.
Nuno Aleixo: Se não incluírmos esses dois destinos temos crescimento. Estamos a falar de perto de 20 mil passageiros para o ano todo, mais cerca de dois mil passageiros que no ano passado.
PressTUR: Excluindo Dubrovnik e Malta…
Nuno Aleixo: Sim, fazendo a comparação com o mesmo produto disponível em 2024 e em 2025.
PressTUR: E nos outros destinos, a Nortravel reforçou a sua capacidade?
Nuno Aleixo: Foi semelhante. Para a Turquia aumentámos, por exemplo. Em 2024, tínhamos cerca de 16 saídas e este ano tivemos quase 30 saídas. Mas também tivemos outros produtos que existiaram no ano passado e este ano não. Fazemos reajustes todos os anos.
PressTUR: Quais foram os destinos com melhor desempenho?
Nuno Aleixo: O destino nº1 da Nortravel, actualmente, é Cabo Verde. Este ano alargámos a operação em relação a 2024, com voos da TAP de Lisboa, com risco a 100%, e voos do Porto para o Sal e para a Boa Vista. É num mercado altamente concorrencial. Houve a entrada da easyJet, o aumento de frequências da TAP, existem os operadores tradicionais do destino e outros que apareceram. É um produto que tem uma competitividade muito elevada e nós felizmente também estamos a dar cartas neste mercado-
PressTUR: Este Verão houve muita promoção para Cabo Verde… Conseguiram que fosse rentável?
Nuno Aleixo: Ultrapassámos os 90% de ocupação, o que nos deixou muito tranquilos.
PressTUR: Mas foi rentável?
Nuno Aleixo: Foi rentável. Claro que Julho é sempre um mês muito difícil, custou-nos muito, mas compensámos com as taxas de ocupação elevadas em Agosto, com uma rentabilidade muito superior, que nos cobriu as dificuldades que tivemos em Julho e na última semana de Setembro. Tivemos que comunicar constantemente muita promoção, muita campanha, com ajudas dos hotéis, mas felizmente o saldo geral foi bastante interessante.
PressTUR: Cabo Verde foi nº1 em facturação ou número de clientes?
Nuno Aleixo: Facturação e passageiros. Muito colado a Cabo Verde temos os Açores, que são o nosso destino nº2. Os circuitos nos Açores continuam muito fortes, mesmo com o aumento de preço desde 2019 e com algumas dificuldades operacionais, de disponibilidade hoteleira. Se falamos da ilha de São Miguel estamos um pouco mais tranquilos, apesar de haver uma pressão muito grande, mas nas outras ilhas complica um pouco mais.
PressTUR: Como são os circuitos da Nortravel nos Açores?
Nuno Aleixo: Temos sete circuitos. O que mais vendemos é São Miguel, com quatro noites. Depois o circuito São Miguel e Terceira, com duas noites em cada ilha. E o Circuito Açoriano que faz quatro ilhas com possibilidade de acrescentar uma quinta ilha. Todos incluem visitas, refeições e guia acompanhante. No circuito açoriano, que é o mais tradicional, normalmente saem entre 20 e 25 passageiros do Porto, entre 20 e 25 passageiros de Lisboa, encontram-se na primeira ilha, andam uma semana inteira juntos e depois no regresso, cada um faz o seu voo. Temos o circuito pelas quatro ilhas centrais. E este ano também lançámos a Graciosa, que não teve tanto impacto quanto esperávamos, porque não tem tanta oferta turística. Só este ano é que reabriu o hotel que lá existia. Os principais são os que têm base em São Miguel, que é onde temos maior oferta hoteleira e maior dinamismo. Os Açores continuam a ser um dos grandes destinos.
PressTUR: E a Madeira?
Nuno Aleixo: A Madeira, infelizmente, já não é o grande destino. Passámos a ter mais passageiros para os Açores do que para a Madeira. A disponibilidade é quase nula na Madeira. Também temos Porto Santo, que é bastante importante, mas a Madeira é muito difícil. Para o mercado nacional cada vez está um destino mais complexo, por mais que até haja mais oferta de voos, com outras companhias aéreas, a disponibilidade hoteleira é muito limitada. Os mercados estrangeiros fazem sete noites, e o mercado nacional faz três ou quatro. Nós, mesmo assim, muitas vezes fazemos circuitos de três e quatro noites para apresentarmos uma solução ao hotel em que ocupamos sete noites, para conseguimos competir na contratação, mas é muito difícil. A ilha da Madeira está um destino muito complexo para este tipo de produto. Os Açores também estão com essa dificuldade, mas sentimos mais na ilha da Madeira. Nos Açores continuamos a ter disponibilidade fruto de 25 anos de relação com os principais players do mercado, como o grupo Bensaude, que é determinante, e a SATA, cuja privatização nos deixa um pouco apreensivos.
PressTUR: Que outros destinos se destacaram este Verão?
Nuno Aleixo: Outra grande subida que tivemos em 2025 foi a retoma dos Circuitos Europeus e das Grandes Viagens com guias Nortravel, os exclusivos. A Turquia para nós este ano teve um boom muito grande. Foi a grande surpresa na Europa. O Uzbequistão também foi muito importante para nós. Globalmente, estes foram os principais produtos da Nortravel. A Itália continua a ser muito forte. Este ano [conta] com o ano jubileu. Continuámos a ter muita procura pelos circuitos no Reino Unido. Para os Países Bálticos, mesmo com a proximidade da Ucrânia, conseguimos este ano voltar a ter bastantes grupos. Portanto, a Europa voltou, não para os números de 2019, mas já para uns números bastante interessantes comparativamente com 2024.
PressTUR: Turquia foi uma grande surpresa. Em que tipo de viagens?
Nuno Aleixo: Istambul combinado com a Capadócia, e o circuito. É um país extenso, tentamos aproveitar ao máximo os oito dias de viagem. Temos muitas ligações com a Turquia. A Turkish Airlines tem sido responsável por cada vez aproximar mais a Turquia de Portugal.
PressTUR: O que tem mais procura na Turquia?
Nuno Aleixo: É o circuito com guia Nortravel, sendo que o guia não vai desde Portugal, já lá está. É um guia turco que fala português.
PressTUR: Depois de Cabo Verde e Açores, quais foram os programas mais procurados na Nortravel?
Nuno Aleixo: Os Circuitos Europeus, com a Itália, Côte d’Azur, Montenegro e Albânia, onde fazemos vários circuitos com voos da Iberia. Os Bálticos também saíram bastante. No Reino Unido também temos um circuito com uma ocupação muito elevada, que é o circuito da Escócia, com voos da TAP para Manchester.
PressTUR: Como se comportou a procura este ano?
Nuno Aleixo: Na Black Friday, em Novembro, tivemos um crescimento surpreendente, que foi global no mercado. Foi surpreendente, mesmo. Depois tivemos outro pico de procura na BTL, e a procura abrandou. Entre estes dois focos importantes de vendas para nós, a Black Friday e a BTL, o ritmo manteve-se bem. Mas depois da BTL sentimos uma quebra muito grande. Foi aí que começámos a lançar mais promoções, mais campanhas para tentar manter o ritmo, porque ainda tínhamos muitos lugares para vender. Julho foi muito penoso, foi um mês muito complicado, e por isso existiram várias campanhas no mercado.
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