O Reinvent the Event, certame dedicado à indústria dos eventos, reuniu Lídia Monteiro, vogal do Turismo de Portugal, Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte, e Frederico Nunes, vereador da Câmara de Cascais, com moderação de Jorge Vinha da Silva, no painel “The Portugal Pitch: Winning International Events”.
Este painel começou com uma intervenção da vogal do Turismo de Portugal, que afirmou que “os eventos têm um papel crucial na competitividade de Portugal enquanto destino turístico”, bem como em termos regionais, garantido que têm sido trabalhadas medidas “para a captação de grandes eventos para os respectivos territórios”.

A estratégia do Turismo de Portugal nesta área “tem que ver com o facto de olharmos para a indústria MICE como a que nos permite, do ponto de vista do turismo, mitigar a nossa tradicional sazonalidade”, indicou Lídia Monteiro, afirmando mesmo que “os eventos são, sem dúvida, um dos aspectos mais relevantes para podermos ter turismo ao longo de todo o ano”.
Além do impacto na sazonalidade, Lídia Monteiro afirmou que “podemos também ter um turismo que cresce em valor, os eventos têm a capacidade de captar turismo com valor acrescentado, com mais valor para o destino nacional e para os territórios. E por último, termos também, do ponto de vista da captação de grandes eventos, um papel importante na coesão territorial e social”.
A vogal do Turismo de Portugal afirmou que “o nosso esforço vem no sentido de que outros destinos, além das grandes cidades, e em concreto Lisboa, possam ter a possibilidade de ter oferta para receber eventos, e terem a possibilidade de, ao longo de todo o ano, terem eventos”.
O presidente do Turismo do Porto e Norte, por sua vez, afirmou que “para nós tudo começa e acaba no território”, lembrando que “os territórios não são todos iguais”, incluindo as localidades dentro da região Norte.

“A primeira análise que fizemos, no início do mandato foi: o que é que nós temos? Quem queremos ter aqui? E como vamos vender?”, afirmou Luís Pedro Martins, indicando que “no caso da meeting industry foi fácil perceber que tínhamos uma cidade com muita força, onde este produto está estável, mas tínhamos a possibilidade de crescer noutros destinos, o que temos feito ao longo destes cinco anos, depois de termo dedicado uma parte significativa do nosso orçamento para a meeting industry, cerca de 23-25% do nosso orçamento, e desde aí nunca baixamos”.
“Investimos muito em tentativas de trazer para este sector alguns municípios que não percebiam o potencial que tinham, Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Braga, Guimarães, Gondomar…”, sendo que também “precisávamos crescer na notoriedade, ter algo que nos posicionasse em termos internacionais na indústria. E foi prosseguir algo que já vinha de trás, dos meus colegas, muito trabalhado pela Mariana, e aos quais se juntou o resto da equipa, que era a ambição maior de conseguir conquistar para o Porto e Norte um grande evento”.
Porto recebe Congresso da ICCA em Novembro
Em relação à captação do 64º Congresso Anual da ICCA (International Congress and Convention Associaton), que se realiza de 9 a 12 de Novembro, Luís Pedro Martins explicou que “não foi fácil, tivemos uma luta muito interessante, à qual se juntou desde o primeiro momento o Turismo de Portugal, alguns parceiros como a Alfândega, que nos acompanharam nos diversos momentos, e também o presidente do capítulo ibérico da ICCA, que conseguiu colocar todos os associados do capítulo Ibérico, Portugal e Espanha, todos alinhados no mesmo sentido”.
“Chegámos a uma pool final, e estávamos nós, o Panamá e a Coreia do Sul, com Seul, e desses três ficamos nós os seleccionados”, indicou, acrescentando que ficaram com “a ambição de ter um evento que tem de deixar uma marca, que é sempre um princípio dos congressos do ICCA, em cada congresso tem de ficar algo para o futuro da indústria”.
No último congresso, em Banguecoque, a marca foi a sustentabilidade, “e no nosso, coisa que só nos disseram depois de termos ganho, ou seja, já tínhamos um orçamento para uma coisa final e saiu-nos outra”, afirmando mesmo que “nós conseguimos ganhar um evento e depois disseram-nos – com vocês vamos fazer uma coisa muito gira, o evento não pode ter lugar apenas num sítio, o impacto não pode ser num venue, tem de ser num território, numa cidade”.
“Temos de distribuir isto por outros espaços. Quantos? Nove”.
A equipa também decidiu que era importante deixar algo para o futuro, um legado, que é a forma como se avalia um evento, além das ‘room nights’ e proveitos, recorrendo a métricas que avaliem as vertentes social, de inovação e de participação cívica dos cidadãos.
Em relação a planos para o futuro, Luís Pedro Martins assumiu que estão a tentar “atrair as grandes competições de surf”, além de estarem “a pegar em produtos como o golf, que são associados aos mercados que nós temos, estamos a conquistar mercados de alto rendimento”.
Antes de perspectivar 2026, o presidente do Turismo do Porto partilhou “dois números, em 2019, o mercado americano era o sétimo, hoje é o segundo”, e “em 2019 tivemos 500 milhões de euros de proveitos, e hoje, em 2024, 1,1 mil milhões de proveitos”, além de estar a terminar o ano “com 16 milhões de movimentos de passageiros, e a descer, um bocadinho acima da média nacional, quer em dormidas e proveitos”.
“Para 2026 temos 130 rotas fechadas, a Delta Airlines, todos os dias para JFK, um aumento exponencial da Air Canada, e uma brutalidade com a Turkish, que vai passar a 17 ou 18 voos por semana, com ligação com Istambul”, destacou Luís Pedro Martins, antes de afirmar que “como estamos muito dependentes da conectividade isto faz-nos acreditar que as coisas vão correr bem”.
Cascais: eventos alavancam o território
O vereador da Câmara de Cascais, Frederico Nunes, afirmou que “os eventos são muito importantes para o desenvolvimento de cada território” e “têm sido os eventos que têm permitido alavancar o território e todo o sector de turismo em Cascais”.

“Estamos a falar de um território com 220 mil habitantes, um terço do território é parte natural, e há uma série de activos que estão ao dispor das várias organizações de eventos, que permite num raio curto fazer esse desenvolvimento”.
Em concordância com Lídia Monteiro, Frederico Nunes afirmou que os eventos também permitem transformar a “sazonalidade turística em Cascais”, acrescentando a sua contribuição para a separação da marca “Cascais” da marca “Estoril”.
O vereador da Câmara de Cascais apelidou os grandes eventos de “grandes embaixadores, particularmente os internacionais”, salientando também a internacionalização do evento local Chefs on Fire, que teve início em Cascais.
Jorge Vinha da Silva questionou em relação à existência de algum estudo de impacto da indústria MICE em Portugal, ao que Lídia Monteiro respondeu que “os dados são sempre um tema, é importante, é através dos dados que conseguimos planear e tomar decisões”, explicando que “nós, Turismo de Portugal, não somos os agentes de recolha primária de dados, nós recorremos aos dados do INE e por isso temos dados macro, que não são identificados por tipologia de segmento ou produto turístico”.

No entanto, “ao nível dos observatórios de sustentabilidade regionais, estamos a tentar realizar um conjunto de estudos que permitam ter informação mais precisa sobre cada um dos produtos e segmentos, e acredito que muito em breve tenhamos outros elementos, outros dados, que nos ajudem a todos, à indústria, a ter uma ideia mais assertiva”.
Turismo do Porto e Norte diz-se prejudicado por falta de dados do INE
Luís Pedro Martins foi mais assertivo, até na sua introdução. “Não sei se há alguém do INE na plateia, era bom, porque consideramos uma desgraça o trabalho, já tentamos provocar o INE de todas as maneiras, incluindo fazer um artigo de opinião, mas não há reacção”.
“O INE entrega tarde e entrega curto”, continuou o presidente, acrescentando que “faz coisas na nossa região, que são espectaculares: todos os hóspedes de cruzeiro no Douro não existem nas nossas contas, imaginem esse número multiplicado pelas noites, não existem também nas dormidas e não existem nos proveitos, e quando o Turismo de Portugal faz contas de distribuição de verbas, nós, logo à partida estamos a ser prejudicados”.
Em relação a iniciativas, Luís Pedro Martins afirmou que, com financiamento europeu, estão a terminar um levantamento sobre o sector MICE na região, sobre o que há disponível e o que está em falta, sendo que foi criado um programa de distribuição de 350 hotspots na região, o que permite ter dados sobre os utilizadores.
Frederico Nunes reiterou a vontade de Cascais em encontrar uma solução para recuperar o Autódromo do Estoril, de forma a estar apto para realizar eventos desportivos e de outras áreas.
Jorge Vinha da Silva introduziu o tema do “digital” e do seu peso no trabalho das entidades dos presentes, com Lídia Monteiro a explicar que “o Turismo de Portugal, há muitos anos, do ponto de vista da promoção é ‘digital first’ e o investimento que tem feito, não é só financeiro, mas acima de tudo é no desenvolvimento de competências internas no que diz respeito às questões sobre como é que a tecnologia afecta a nossa forma de trabalhar”.
A vogal apontou ainda que “temos novos desafios e a IA vai ser um tema que não podemos deixar de ter competências próprias”.
“Do ponto de vista da promoção, os eventos são um dos aspectos mais relevantes, não só os corporativos e associativos, mas também os grandes eventos internacionais, desportivos e culturais”, sendo que estes “têm a capacidade de transformar os destinos, de tornar os territórios em locais totalmente diferentes, e nós temos bons exemplos de eventos transformadores de territórios, e o surf é um bom exemplo”.
Luís Pedro Martins falou sobre um grande evento que já aconteceu no Porto e que está a ser recuperado para 2026, numa alusão à Air Race, e em “trazer também uma competição internacional, que são daqueles desportos de rua, que têm muita visibilidade”.
Falou sobre a Ocean Race, “que está agora a ser partilhado com Cascais, que vai receber a World Race”, explicando que “nós recebemos o fly by, e como não tínhamos recebido nada da Ocean Race, para nós aquele bocadinho foi uma porta de entrada na Ocean Race, e com isso ganhamos o Summit da Ocean Race, que vai ser em 2026, mas queremos receber também uma prova maior da Ocean Race”.
O presidente do Turismo do Porto afirmou também que “nós não temos o Porto como a única grande cidade da região Norte, nós temos ali cinco regiões à volta e temos a Galiza, nós em termos de conectividade aérea temos sido diferenciadores, os três aeroportos da Galiza receberam 5 milhões, e o nosso sozinho recebeu 16 milhões, e o nosso pode crescer, se Portugal acreditar que não tem apenas um aeroporto, tem mais”.
“Há um aeroporto em Faro que cresceu muitíssimo este ano, e só aquela conquista da United Airlines está a fazer diferença”, afirmou também, acrescentando que “há 30 anos, o Aeroporto do Porto teve 400 mil passageiros, 30 anos depois fez 16 milhões, enquanto que Lisboa fez pela primeira vez 16 milhões em 2014, o que significa que se há mais aeroportos e se há esta dificuldade, e não vai ser tão cedo que vamos ter aeroporto, vai ser preciso uma nova ponte, ainda vamos entrar nessa discussão, onde é que vai ser a ponte…”
O presidente do Turismo do Porte e Norte afirma mesmo “aproveite-se Faro, aproveite-se o Porto, que estão a crescer, e podem até unir o país. A United está a trazer turistas que estão a entrar pelo Algarve, a percorrer o país, e a sair pelo Norte”.
Frederico Nunes, por sua vez, destacou o impacto da realização do Ironman em Cascais, que afirmou ter tido um impacto de 30 milhões de euros na economia local, durante duas semanas, tendo reunido o número recorde de 5.000 atletas. Nunes deixou ainda a hipótese de a competição poder ser repescada por outra localidade portuguesa.
Lídia Monteiro deu por encerrada a sessão com uma novidade: “nós vamos sinalizar a conferência mundial da ICCA no Porto com o lançamento de uma campanha de Portugal dedicada exclusivamente à indústria dos eventos corporativos”.
Ver também: Reinvent the Event cresce em participantes, expositores e internacionais
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