Apesar de admitir que a operação deste ano não foi rentável em todos os meses, a Travelplan antecipa-se para captar um mercado em amplo crescimento em Portugal. Antes da Páscoa já será possível visitar Cuba, que enfrenta a maior quebra turística dos últimos 17 anos.
A informação circulou a bordo dos autocarros que transportavam agentes de viagem de regresso ao aeroporto de Santa Clara, no cair do pano da fam trip da Bolsa Turística Destinos Gaviota 2025. “Este ano já tínhamos antecipado, em 2026 voltamos a antecipar a operação para 24 de março”, avançou a delegada comercial do grupo Ávoris, Cristina Pinto.
A data, que coloca o início da temporada nas vésperas da Páscoa de 2026, é um sinal de confiança que contrasta com a realidade macroeconómica cubana. Agravado pela pandemia e por quase 65 anos de embargo norte-americano, o cenário inclui a falência técnica das centrais elétricas e as falhas sistemáticas de energia, fora do ambiente cinco estrelas dos resorts. Com uma quebra histórica para 2,2 milhões de visitantes em 2024, Cuba ficou muito abaixo da meta oficial de 3,4 milhões.
Alto risco: crescimento a dois dígitos sustenta aposta
A confiança do operador turístico do grupo Ávoris assenta no crescimento do mercado português. ”Os nossos números estão acima dos dois dígitos na tour operação. Uma parte significativa deve-se às operações iniciais que realizámos em abril”, adianta Javier Castillo, director-geral. ”Crescemos também em destinos de médio curso, não apenas em longo curso, porque estamos limitados a sete dias de operação”. No balanço final, ”o nosso crescimento em Portugal está acima dos 12% em comparação com o ano passado”.
Este crescimento, porém, tem um custo. Castillo é transparente: “Temos de admitir que os meses de abril e maio foram difíceis. As taxas de ocupação não foram más, mas com muito sacrifício de preços. Não cobrimos os custos operacionais”.
O modelo de negócio para Cuba é de alto risco. ”A capacidade da aeronave é inteiramente nossa e pagamos pelo avião todo; fazemos todos os possíveis para o encher, e por vezes isso baseia-se nos preços”, explica Castillo. Esta pressão sobre as margens é a regra: ”não lucrámos com quase nenhum dos destinos para onde voamos. Nenhuma operação nas Caraíbas, se considerada individualmente, é muito rentável”.
A Travelplan já concluiu a operação de Cayo Santa María para 2025, e “praticamente 80% dos produtos mais populares em Portugal” terminam em outubro, “porque a sazonalidade do mercado português assim o exige”. Daí a importância estratégica de antecipar os voos para março. Mas a jogada esbarra num obstáculo do lado europeu: a guerra pelos slots no congestionado aeroporto de Lisboa. “Aumentar os voos tem de ser planeado. Se não planearem, não há como avançar”, reconhece Castillo.
A equação que atrai os portugueses
A chave para captar o mercado português está numa relação qualidade-preço invulgar. ”Ao voar para a Madeira, Açores ou ilhas espanholas, os preços podem ser proibitivos. É mais barato Cayo Santa María do que uma semana em Menorca, na Madeira ou Ponta Delgada”, compara Castillo. É nesta equação – voar para o Caribe é mais económico do que para destinos nacionais ou regionais – que Cuba constrói a sua proposta.
Os destinos preferidos dos portugueses ”são aqueles com qualidade elevada, como o México, Punta Cana e Cuba”, sustenta. A aposta, portanto, não é competir pelo preço mais baixo, mas pelo valor percebido. ”O cliente paga mais por um tipo de qualidade, um tipo de experiência. Não queremos ser os mais baratos”, define.
Linha da frente
Se Javier Castillo é a voz dos números, Maria – a única mulher entre os quatro guias da delegação cubana – é a intérprete da realidade que se vê da janela. Numa manhã abafada, pós-tempestade tropical, pegou no microfone e resumiu a essência local. “Aqui não temos tsunamis, não temos terramotos, não temos neve, temos furacões e tempestades. Não se assustem, cinco minutos depois sai um sol radiante”.
Ao passar por uma central eléctrica avariada, não deixou de abordar o racionamento elétrico. “O problema não é a falta de conhecimento. Os nossos engenheiros são excelentes, a dificuldade é importar as peças.”
Oscar, motorista havanense “habilitado a conduzir em todas as estradas do país”, guiava o autocarro chinês – “a estrear” – com a destreza de quem percorre quilómetros nas estradas onde cavalos e carroças dividem o alcatrão com Lada dos anos 60 e o último SUV elétrico chinês. Personifica a lógica do “sempre em frente, apesar de tudo”. Depois deste grupo, outro, e assim sucessivamente.
O turismo é a segunda maior fonte de receitas de Cuba, essencial para financiar os serviços públicos do país, onde cerca de 60% do orçamento é aplicado em educação e saúde. A quebra histórica tem, por isso, um impacto directo e severo no dia a dia dos cubanos.
O dia 24 de março de 2026 é, assim, um teste de resistência. Um acto de fé que é um fio de esperança para os Marias e Oscars do sector, que mantêm as luzes acesas para quem visita. Numa ilha onde a luz falha, a antecipação da temporada é acender uma luz ao fundo do túnel. A questão que fica é se ela será suficiente para iluminar o que existe para além dos resorts.
Ver também: Recuperação do turismo cubano passa por Varadero e Portugal
O PressTUR viajou a convite da Travelplan
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