O CEO da Hoti Hotéis, Miguel Proença, perspectiva que o próximo ano “será uma batalha”, devido a problemas de “retenção e captação de trabalhadores”, aumento de custos e outros factores, mas recusa um cenário de descidas de preços.
Miguel Proença falava ao PressTUR durante o 33º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, organizado pela AHP em Fátima.
PressTUR: As receitas na hotelaria vão bater recordes este ano. Como está o cenário na Hoti Hotéis?
Miguel Proença: Estamos neste momento com receitas acima do período homólogo de 2019, considerando todas as unidades que já estavam em funcionamento nesse ano. No Porto está a ser um pouco mais difícil recuperar e é sobre esta situação que temos mais esperança que, aplicando a mesma expectativa de crescimento das outras localizações, temos expectativa que no próximo ano seja uma ajuda para consolidar o crescimento.
PressTUR: O preço na hotelaria disparou este ano. Será possível manter estes níveis de preço em 2023, tendo em conta a descida do poder de compra dos consumidores?
Miguel Proença: Vai ser uma batalha. Durante este ano a situação com a qual nós nos estamos a confrontar e que vai continuar nos próximos anos são problemas muito complicados de retenção e de captação de equipas. Nestas circunstâncias seria um disparate da nossa parte nós cedermos em preço, porque estamos numa passada muito acelerada em termos de aumento de custos com pessoal e de subida dos custos energéticos. A forma como vamos tentar operar no próximo ano terá que ir mais ou menos em linha de conta com este ano. Tentaremos compensar o impacto de aumentos de custos tão significativos, embora sabendo que será muito difícil. Temos que manter uma passada de aumento de preço até porque permite compatiblizarmos com o aumento generalizado que nós temos nas compras, nos custos com o pessoal e com a energia.
PressTUR: E haverá consumidores para estes níveis de preços?
Miguel Proença: Como sempre, nós vamos tentando ajustar-nos dentro do posicionamento da praça. Temos que nos fazer valer dos argumentos que temos em alguns dos casos por marcas internacionais. Uma coisa nós evitaremos sempre fazer que é combater pelo preço. Tentaremos sempre, em função das capacidades competitivas de cada hotel, estar sempre numa fasquia superior ao nível da praça, embora sempre integrados. Não acredito que se vá entrar numa descida significativa de preços, porque todos lidamos com os mesmos factores de stress, todos temos limitações de capacidade para prestar um bom serviço e para isso precisamos de pessoal. Se isso acontecer, esses hotéis ficam cheios e não têm pessoal para prestar um serviço capaz.
PressTUR: Quais são as suas perspectivas para 2023?
Miguel Proença: Antes de mais, passa muito pela expectativa de que seja um ano sem pandemia, porque só isso resolve os três primeiros meses do ano em comparação com o primeiro trimestre de 2022 [em que a pandemia ainda teve um impacto forte nas viagens]. Só esse efeito já tem potencial de recuperação de taxa de ocupação. Depois, para o que decorrerá daí existem muitas ameaças que são conhecidas em termos de abrandamento, continuidade da guerra e impacto que terá em termos de custos energéticos. Vamos ver até que ponto impactam o turismo em Portugal e especificamente aquele onde nós estamos mais presentes, que em grande parte dos casos são áreas urbanas, embora tenhamos um pouco de tudo. Neste momento, aquilo com que nós estamos a contar tem que ver com o facto de que uma parte relevante dos nossos hotéis com maior capacidade de geração de fluxos fizeram processos de remodelação e rebrand muito significativos. Contamos com essa capacidade para muscular muito a capacidade de venda para o próximo ano. De resto, temos que ver qual será o impacto [da conjuntura], sempre na perspectiva de nos querermos posicionar bem em termos de preço e não destruir valor.
O PressTUR viajou para Fátima a convite da AHP
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