Uma escapada em Budapeste mostra muitas facetas da cidade, mas há duas que sobressaem à partida: os ares de estilo clássico dos edifícios apalaçados e a rebeldia dos bares que fizeram das ruínas as suas casas. Venha descobrir.
Começamos pelo lado clássico, a percorrer as ruas do bairro Lipótváros (Cidade de Leopoldo), no quinto distrito de Budapeste, o centro histórico, político e comercial da cidade.
Caminhar à sombra dos edifícios deste bairro, a maioria deles com aspecto de palácio do século XIX, incluindo o hotel onde estamos hospedados, é o primeiro vislumbre que temos da elegância do património histórico de Budapeste.
É neste espírito, rodeados de bonitos edifícios construídos há cento e muitos anos, preservados como se tivessem acabado de inaugurar, que chegamos à Praça da Liberdade (Szabadság tér), para nos surpreendermos com estátuas de dois presidentes norte-americanos junto a um monumento soviético.
As estátuas de Ronald Reagan e George H. W. Bush representam gratidão pelo papel dos Estados Unidos na queda do comunismo na Europa, enquanto o monumento soviético, com uma estrela de cinco pontas no topo, presta homenagem aos soldados soviéticos que morreram na libertação de Budapeste dos nazis.
Na mesma praça, no lado oposto, encontramos um memorial às vítimas da ocupação alemã, inaugurado em 2014 e criticado pela população, como mostram os cartazes e objectos ali expostos em protesto, acusando o Governo de Viktor Órban de minimizar a responsabilidade da Hungria no genocídio que se seguiu à ocupação nazi.
Os monumentos da Praça da Liberdade testemunham a complexidade da história da Hungria e alimentam as nossas conversas enquanto caminhamos na direcção do grandioso Parlamento de Budapeste, nas margens do Danúbio, a cinco minutos dali.
Dentro do Parlamento, com um audioguia pendurado ao pescoço e auscultadores nos ouvidos, alguém nos transmite informação em português sobre o que estamos a ver, mas muitas daquelas datas e referências históricas desvanecem-se enquanto percorremos os corredores, deslumbrados com as esculturas, os candeeiros, as paredes e os tectos ornamentados, os vitrais coloridos e todos aqueles detalhes que fazem do Parlamento de Budapeste um edifício impressionante.
Foi construído em 17 anos, de 1885 a 1902, numa época de prosperidade na Hungria, como demonstram os 40 quilos de ouro de 22-23 quilates utilizados na sua decoração. Mas não são apenas os detalhes decorativos que impressionam, também a dimensão do Parlamento deixa um grande impacto, sobretudo a cúpula, com 96 metros de altura, o que corresponde a um edifício com mais de 20 andares.
Na sala da cúpula encontramos um dos símbolos mais importantes da Hungria, a Coroa de Santo Estêvão, utilizada ao longo dos séculos na coroação dos reis do país. É considerado um dos artefactos reais mais antigos, com mais de mil anos. A pequena cruz no topo da coroa está inclinada, um detalhe curioso cuja explicação não comprovada indica que terá sido entortada no transporte para um local mais seguro durante a Segunda Guerra Mundial.
Um dos espaços mais marcantes do Parlamento é a antiga Câmara Alta, com painéis de madeira trabalhada e decorações banhadas a ouro, com centenas de assentos, actualmente usada apenas para eventos e sessões comemorativas.
A imensa tarefa que terá sido a construção de um edifício tão majestoso, por dentro e por fora, e a criatividade do arquitecto Imre Steindl e dos artistas e artesãos da época, eis os pensamentos que nos ocupam a mente à saída do Parlamento.
Voltamos às ruas dos edifícios com aspecto de palácio, mas desta vez vamos em direcção ao bairro judeu, no sétimo distrito de Budapeste. Entre conversas, apercebemo-nos de como muda o estilo de construções que nos rodeia.
Em meia hora de caminhada, do quinto ao sétimo distrito, deixamos o tal ambiente clássico e os edifícios do século XIX, para entrar numa atmosfera situada algures entre a decadência e o charme.
Estamos no bairro judeu de Budapeste, onde um passado trágico convive com uma cultura urbana moderna, evidente nas pinturas, esculturas e instalações que vemos nas paredes dos edifícios.
Depois de ter acolhido uma próspera comunidade judaica no século XIX, de que é prova a Grande Sinagoga de Budapeste, a segunda maior do mundo, o bairro foi transformado em gueto durante a ocupação nazi, onde milhares de judeus viveram em condições desumanas.
Após a Segunda Guerra Mundial, o bairro continuou em decadência até aos anos 2000, quando a arte urbana tomou conta da área e alguns edifícios abandonados foram transformados em bares, com pouca ou nenhuma recuperação, assumindo uma nova identidade: os ruin bars ou ruin pubs.
O primeiro ruin bar foi o Szimpla Kert e outros seguiram a fórmula. Paredes pejadas de grafitti e autocolantes, quadros e esculturas, mobiliário antigo, luzes fluorescentes de várias cores, candeeiros por toda a parte, bolas de espelhos e até sinais trânsito. Há várias salas para sentar e conversar, pistas diferentes para dançar músicas diferentes, bares para beber e comer, e até um pátio interior ao ar livre.
Este é o lado rebelde de Budapeste, o dos edifícios de aspecto decadente, com vestígios da elegância do passado, mas absorvidos pela cultura urbana moderna, em evidente contraste com os ares de estilo clássico do quinto distrito.
Mas a cidade não se esgota nestes dois lados, clássico e rebelde. Podemos viver outra faceta de Budapeste nas Termas de Széchenyi, onde locais e turistas convivem mergulhados em piscinas de águas termais, num complexo construído em 1913, num tempo em que não se olhava a custos, como evidencia a arquitectura e decoração dos espaços.
A experiência dos banhos termais é particularmente interessante no Inverno, quando podemos relaxar nas piscinas exteriores dentro da água quente, com a temperatura do ar próximo dos zero graus, envolvidos num ambiente místico provocado pelo vapor.
Para completar uma escapada em Budapeste é preciso atravessar o Danúbio e visitar o lado de Buda, mais antigo e montanhoso, com mais jardins e miradouros, com um ambiente mais sossegado, em contraste com Peste, mais plano e movimentado.
É na margem Oeste do Danúbio que encontramos o Castelo de Buda, com origens medievais, mas ocupado pelos otomanos e reconquistado pelos Habsburgos, e também o Bastião dos Pescadores, com torres, escadarias, arcos e vistas deslumbrantes para o rio e para Peste.
Outro edifício impressionante neste lado do rio é a Igreja de Matias, construída em estilo gótico sobre uma antiga igreja do período romano, convertida em mesquita durante a ocupação otomana e reconvertida ao cristianismo pelos Habsburgos. Destaca-se sobretudo pelos seus telhados cobertos de azulejos coloridos.
Quer em Buda quer em Peste, temos que caminhar de olhos bem abertos, não por precaução, mas porque há sempre algo belo para ver.
O PressTUR viajou a convite da Eurostars Hotel Company
Ver também: Em Budapeste, a dormir num palácio junto ao Parlamento
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