Os resultados apresentados pela TAP, para o período de nove meses do corrente ano, são inquestionavelmente positivos e em linha com os dos trimestres anteriores.
Porém, a sua fase de recuperação, bem como a da indústria, parece concluída, entrando numa nova fase em que as variações muito expressivas face aos períodos homólogos, como aquelas que ainda se verificaram no primeiro semestre e que têm influenciado significativamente os resultados acumulados do ano, deixam de existir.
Uma análise mais detalhada aos resultados da TAP exclusivamente do terceiro trimestre, faz antever que o caminho a trilhar no 4T e em 2024 será feito com alguns obstáculos potencialmente mais difíceis de ultrapassar. Ora vejamos:
- Comparativamente ao período homólogo de 2022, as variações do PRASK [receitas de passagens por lugar voado um quilómetro] e do CASK ex Fuel [custos operacionais excluindo fuel por lugar voado um quilómetro], no 3T [terceiro trimestre], são semelhantes: +8,2% vs. +7.6%. Longe, portanto, da variação do PRASK equivalente a quase o dobro da do CASK ex Fuel que se verificou no 1S [primeiro semestre]: +22,6% e +12,1%, respetivamente.
Esses +8,2% do PRASK no 3T comparam com os +21,4% do 2T e +22,6% do 1S. Trata-se de uma significativa desaceleração do crescimento, embora uma variação de +8,2% neste indicador e no período em causa seja merecedor de uma nota bem positiva.
O PRASK, recorde-se, resulta da ação combinada do Yield [preço por passageiro e quilómetro voado] e do LF [taxa de ocupação]. Em teoria, o Yield e o LF do 4T serão inferiores aos do 3T, o que irá pressionar o PRASK para baixo e, consequentemente, o resultado operacional, num contexto em que os custos com pessoal aumentam 60,5% no 3T.
Adicionalmente, o aumento do preço do barril do petróleo, na sequência da recente crise no Médio Oriente, irá também contribuir para uma tendência de subida do CASK. Recorde-se que a TAP tem uma proteção de preço do combustível (hedging) em cerca de 50%.
VARIAÇÃO DO PRASK E DO CASK EX FUEL VS. PERÍODO HOMÓLOGO DE 2022
- Os diferentes indicadores de performance operacional confirmam a já mencionada desaceleração do crescimento da atividade. A oferta, medida em ASK, cresce, no 3T, “apenas” 9%, contra +21,4% no 1S, os +5,2% de Passageiros comparam com +30% na primeira metade do ano e o LF cai 2,2 p.p., quando no 1S cresceu 5,5 p.p..
Enquanto nos indicadores que contribuem para a receita os crescimentos acentuados deixam de se verificar, os dos custos operacionais parecem ter uma tendência mais de crescimento do que o inverso, em particular o combustível e o pessoal.
VARIAÇÃO VS. PERÍODO HOMÓLOGO
- Em linha com o ponto anterior, também o Yield deixa de ter, no 3T, um crescimento (+11%) tão expressivo como os +20% verificados no 2T.
A variação positiva do PRASK do 3T deve-se exclusivamente ao Yield, dado que o LF diminuiu nesse período (-2,2 p.p.). Questiona-se até quando a indústria conseguirá manter a política de tarifas altas que se tem verificado desde o final da pandemia ou se haverá ainda margem disponível para continuar a subir o valor das mesmas. Em caso negativo, a pressão sobre os resultados será evidentemente mais forte num cenário de aumento do CASK.
VARIAÇÃO DO YIELD VS. PERÍODO HOMÓLOGO de 2022
Verifica-se que o Yield cresce a um ritmo visivelmente mais lento em Agosto e Setembro, o que faz antever que a mesma tendência manter-se-á ao longo do 4T e em 2024.
- O Cash Flow era de 900m € no final do semestre, enquanto no final dos 9M é de 769m € (-14,1%), justificado por o 3T ser um período de mais receita voada do que de vendida, que também se reflecte na redução do montante da conta “documentos pendentes de voo”: 863,9m € no final do 9M, quando no 1S era de 1.122,2m € (-23%). Algo para acompanhar.
Em suma, o caminho a percorrer parece vir a ser acompanhado de alguma turbulência. As variações com os períodos homólogos deixarão de contribuir para alimentar ideias de excelentes performances. Mas, conseguindo-se manter o bom resultado operacional e a consequente margem positiva, a noiva continuará esbelta para o casamento que se avizinha.
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