A Cintura de Sargaço é uma concentração de cerca de 300 espécies de algas, que se encontra entre a África Ocidental e a região das Caraíbas e do Golfo do México, cujo crescimento varia consoante as temporadas e que desde 2011 é observável a partir de imagens de satélite.
O sargaço representa cerca de 300 espécies de algas, com a Sargassum Natans e a Sargassum Fluitans a serem as espécies mais comuns no Atlântico, e é formado na região conhecida como Mar de Sargaço, acumulando-se numa “cintura” que é transportada até às Caraíbas durante o Verão, afectando as regiões costeiras.
Desde 2011 que esta crescente concentração de sargaço é visível a partir do espaço e analisada e acompanhada através de imagens satélite.
Gustavo Jorge Goni, director da Physical Oceanography Division da National Oceanic and Atmospheric Administration’s Atlantic Oceanographic and Meteorological Laboratory, foi citado pela CNN indicando que a quantidade anual de sargaço depende de factores ecológicos, alterações nos nutrientes disponíveis, chuvas e ventos, e correntes marítimas.
O fósforo e o nitrogénio (azoto) são os principais nutrientes que alimentam e fazem crescer esta espécie. Estes podem chegar ao mar através dos rios onde são depositados como subprodutos de actividades humanas como a agricultura com fertilizantes e a produção de combustíveis fósseis, indica a Environmental Protection Agency, citada pela “CNN“.
As fortes tempestades que, além de agitarem o fundo do mar e contribuirem para a disponibilização dos seus nutrientes, também trazem a poeira do Deserto do Sahara, que contribui para o aumento do fósforo nas águas. As águas provenientes de esgotos também são outra fonte de aumento das concentrações de nitrogénio e fósforo.
Brian Barnes, investigador da University of South Florida’s College of Marine Science, foi citado pela “NPR” afirmando que esta concentração tem crescido ao longo dos anos, sendo que em 2018 e 2022 foram verificadas as maiores acumulações. A concentração deste ano aproxima-se das desses anos, indicou Barnes.
O fenómeno do aumento da concentração de sargaço, de acordo com a comunidade científica, que inclui Brian LaPointe, professor no Florida Atlantic University’s Harbor Branch Oceanographic Institute, é resultado da actividade humana, através de emissões produzidas por combustíveis fósseis ou pela combustão de biomassa, e do aumento de nutrientes levados pelos principais rios até ao mar, que depois alimentam estas algas.
“Temos o Congo, o Amazonas, o Orinoco, o Mississippi – os maiores rios do planeta, que têm sido afectados por situações como a desflorestação, o aumento do uso de fertilizantes e a combustão de biomassa”, afirmou LaPointe, explicando que “tudo isso faz aumentar as concentrações de nitrogénio nesses rios e, desta forma, estamos a verificar estes crescimentos [de sargaço] como uma forma de manifestação das alterações nos ciclos de nutrientes do nosso planeta”, acrescentando ainda que estes efeitos são exacerbados pelas alterações climáticas, que aumentam não só a temperatura das águas, como geram inundações que vão resultar num escoamento para cursos de água principais.
“O que descobrimos ao estudar estas plantas ao longo das últimas quatro décadas”, afirma LaPointe, “é que o rácio [de fósforo para nitrogénio] está a aumentar, e é exactamente isso que está a acontecer em todos estes principais sistemas de rios”.
A Smithsonian Magazine e o The New York Times chegam a afirmar que os padrões de crescimento destas algas seguem os padrões de escoamento de rios como o Congo, o Mississippi ou o Amazonas.
A solução para este problema de sargaço, segundo Brian Lapointe, consiste na tarefa tão simples como hercúlea de limpar os rios como o Mississippi ou o Orinoco.
Outras perspectivas para resolver este problema, com vantagens comerciais, passam pela conversão do sargaço em alimento para animais, em combustível ou em materiais para construção, e até fertilizante.
No entanto LaPointe sublinha que as concentrações de arsénico verificadas nestas algas são um problema, particularmente para o seu uso como fertilizante, devido à possibilidade de contaminação de lençóis freáticos.
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