Depois de explorar as praias e ilhas de Hurghada, é tempo de entrar no deserto que separa o Mar Vermelho do Rio Nilo à descoberta de uma aldeia beduína. Para lá chegar, apontamos às montanhas e seguimos a todo o gás. Yalla, yalla!
Quem nos diz que yalla é a palavra árabe para dizer vamos é Mohamed Ramadan, o nosso guia para esta aventura, um egípcio de 23 anos fluente em português.
Apesar de jovem, Mohamed já é uma cara conhecida de muitos portugueses, pois é ele quem recebe, desde 2019, a maior parte dos turistas lusos que chegam a Hurghada em voos charter. São quase 200 por semana nos meses de Verão.
É funcionário da Travel Ways, uma das maiores empresas de recepção de turistas no país, e vai estudar para ser egiptólogo e poder contar aos visitantes a história do Antigo Egipto, dos faraós e da civilização que ali habitou há mais de cinco mil anos.
Mas hoje a sua função é falar-nos dos costumes dos beduínos, os habitantes do deserto, que vivem nas montanhas que todos os dias observamos no horizonte em Hurghada.
Ao chegar às portas do deserto, recebemos óculos e lenços para proteger os olhos, o nariz e a boca, porque, antes de nos pormos a caminho da aldeia, vamos passear de mota 4×4 e de buggy.
Após uma breve explicação sobre o funcionamento dos veículos, podemos escolher ser condutores ou passageiros, e seguimos em fila pelo deserto, a toda a velocidade, com a cordilheira ao fundo e apenas areia à volta.
É aqui que encontramos Liliana Correia, advogada, residente no Porto. Nunca conduziu um carro e muito menos uma mota 4×4. Diz-me que não esperava ir ao volante, mas avança sem hesitações. Cruzamo-nos no final e num sorriso diz tudo. Adorou.
Quando escolheu o Egipto para as suas férias, Liliana procurava um destino com praia e calor, mas onde também pudesse conhecer uma nova cultura. “Se fosse para fazer só praia, ficava em Portugal”, disse.
Liliana está a viajar sozinha e confessa que, antes de vir, estava com algum receio, por ser mulher. Contudo, a viagem tem sido “completamente tranquila”.
Esta tranquilidade de que fala só se refere à segurança, porque a sua agenda foi tudo menos calma: “fiz quase todas as excursões disponíveis. Visitei o Cairo e Luxor, e as ilhas Orange Bay e Paradise. Estou a gostar muito”.
Sem camelos não há água
A aventura continua, agora em jipes. Sentamo-nos nos bancos corridos na parte traseira e lá vamos nós aos solavancos e ziguezagues, tanto mais intensos quanto mais gritarmos de entusiasmo.
A aldeia que nos espera é uma recriação, mas as pessoas que nos recebem são verdadeiros beduínos, que vivem atrás das montanhas, onde só é possível chegar a pé ou de camelo, informa o nosso guia, Mohamed.
A primeira actividade proposta é um pequeno passeio de camelo, um animal imprescindível ao modo de vida dos beduínos. Além de meio de transporte, é o camelo que permite aos habitantes do deserto encontrar água. A técnica, segundo Mohamed, é deixá-los à sede a vaguear pelo deserto. Onde o camelo parar é garantido que encontram água, a uma profundidade até seis metros. Este fenómeno acontece porque os camelos conseguem cheirar micróbios associados à presença de água no deserto.
Além de encontrar água, o camelo é também importante para fazer fogo. É isso que nos mostram os beduínos numa das tendas da aldeia. Na padaria, os excrementos de camelo são usados como carvão para aquecer uma chapa onde está a ser feito pão egípcio tradicional.
Noutra tenda da aldeia estão expostos os produtos medicinais utilizados pelos beduínos. São todos naturais e à base de chás, cremes e aromas, com garantidos efeitos benéficos para a tosse, dor de cabeça, reumatismo e até para melhorar o desempenho sexual dos homens.
A venda de produtos medicinais e de artesanato é uma forma de sustento dos beduínos que surgiu com o turismo, diz-nos Mohamed. Vivem do que produzem e da agricultura, mas também compram carne e água que ali chega em camiões de tempos a tempos.
Um doce sim ou um amargo não
Mohamed conta-nos que existem cerca de 50 famílias de cinco a dez pessoas a viver no deserto próximo de Hurghada. Por cada dez famílias há um sheikh, geralmente um homem mais velho, que resolve todas as disputas que possam existir.
A educação das crianças é apenas a suficiente para lerem e escreverem o Alcorão, mas também aprendem algumas palavras em inglês para falarem com os turistas.
Sobre os casamentos, Mohamed conta-nos várias curiosidades, começando por destacar que os beduínos, preferencialmente, casam entre primos.
Como as mulheres usam burka, os homens desconhecem a sua fisionomia, e é a mãe do pretendente que faz o papel de conselheira. Depois de a ver, recomenda ou não ao seu filho propor casamento.
O pedido é enviado pela família do homem e é agendado um encontro entre as duas famílias, onde será revelada a decisão da mulher, embora sem serem proferidas quaisquer palavras. É o sabor do chá que revela a decisão. Se for servido com açúcar, há casamento. Caso contrário, será tão amargo o chá como o coração do pretendente.
Em caso de rejeição do pedido, o encontro entre as famílias prossegue, mas passam a discutir-se outros temas, nunca voltando a ser abordada a ideia do casamento, nem ali nem em qualquer outra ocasião.
Embora a poligamia seja aceite, é invulgar, pois só é praticada por homens com capacidade financeira suficiente para manter casas separadas para cada mulher.
Mohamed conta-nos que os beduínos são muito correctos e atenciosos, acolhem qualquer desconhecido servindo-lhe o melhor que podem durante três dias. Ao fim desse período, perguntam como podem ajudar mais.
Sem oportunidade para comprovar a generosidade dos beduínos, mas certos da sua simpatia, deixamos o deserto para voltar para junto do mar. O próximo destino é Luxor, um museu a céu aberto para uma viagem ao tempo dos faraós.
Continua: De Hurghada a Luxor, uma viagem ao tempo dos faraós
O PressTUR viajou a convite da Sonhando
Ver a reportagem completa:
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