A Portalegre de José Régio está cercada de “serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros”. A que visitámos também está rodeada de vinha, de cujas uvas se faz o vinho de altitude, companheiro infalível nesta escapada pelo Alto Alentejo.
A estreia fez-se com um tinto da Quinta do Souto da Sé, no restaurante Solar do Forcado. Acompanhou presunto, cogumelos salteados, queijo assado com orégãos, cachaço de porco preto e esparregado. Só descansou na frescura da Sericaia.
Chegou à nossa mesa directamente da Serra de São Mamede, distrito de Portalegre, como todos os vinhos servidos neste fim-de-semana.
São chamados vinhos de altitude, mas a verdade é que a altura da plantação da vinha é só uma das várias condições a contribuir para a composição destes vinhos.
A abundância de água e a amplitude térmica diária na serra são outras “condições de frescura” que distinguem os vinhos de altitude, dizem-nos durante uma visita guiada à Quinta da Fonte Souto, a 15 minutos do centro de Portalegre.
Esta quinta é prova do crescente interesse dos grandes produtores pela região, já que, em 2017, foi comprada pela Symington, maior proprietária de quintas no Douro.
Para degustar a diversidade dos vinhos de altitude, já no próximo fim-de-semana, nos dias 1 e 2 de Dezembro, decorre em Portalegre a 2ª edição do evento “Vinhos de Altitude – Serra de São Mamede Portalegre”, na Igreja do Convento de São Francisco.
À descoberta de Portalegre e do Alto Alentejo
Com ou sem a boleia da altitude que dá o vinho, há tesouros para descobrir em Portalegre. Um deles, e talvez o mais impressionante, é o Museu da Tapeçaria Guy Fino. Mostra como são feitas estas peças murais com uma técnica manual única, a partir de pinturas de Almada Negreiros, Júlio Pomar, Le Corbusier e muitos outros. As cores do original são analisadas uma a uma e, como prova de fidelidade aos tons originais, garantem-nos que a paleta actual excede já as sete mil cores.
Para conhecer o lado religioso da cidade podemos visitar a Catedral de Portalegre, que reabriu em Junho após uma extensa renovação. Destaca-se pelo seu conjunto notável de pinturas maneiristas.
Outra forma seguramente menos católica de conhecer o lado religioso de Portalegre é saborear os doces conventuais. Há torrão real, rebuçados de ovos, fartes e tantos outros. São iguarias irrecusáveis que nos perseguem não só nas pastelarias, mas em dois dos mais recomendáveis restaurantes da cidade: o sofisticado mas tradicional Tombalobos e o clássico e fiel Abrigo do Martinho, duas homenagens à gastronomia alentejana, também elas regadas a vinhos de altitude.
Com tanto para comer, há que pôr o corpo a mexer. Subimos à freguesia de Alegrete para cumprir essa função e, simultaneamente, regalar a vista com uma paisagem de vegetação e campos agrícolas. São estradas de pedra que nos levam ao topo desta antiga povoação romana, ladeados por antigas casas caiadas, com portas medievais e janelas emolduradas a tinta azul ou amarela. No topo, um castelo serve-nos de miradouro e prova histórica do século XIV.
Cascatas e esculturas em harmonia com a natureza
Mostrou-nos a paisagem em Alegrete que a natureza é parte fundamental da atracção da região, mas há outras formas de desfrutar dela. Uma das mais recentes é percorrer a Grande Rota das Cascatas da Serra de São Mamede, com novos passadiços e escadas para uma viagem segura. Refresca-nos no tempo quente, acalma-nos no tempo frio.
Outra forma de vivenciar a natureza é visitar, dormir e até aprender a esculpir na Quinta do Barrieiro, localizada “no cocuruto da Serra de São Mamede”, como diz Maria Leal da Costa, a escultora que dá vida ao espaço. É uma unidade de alojamento com oito quartos e ao mesmo tempo um parque de esculturas ao ar livre. Na sua essência, um espaço de tranquilidade e harmonia entre natureza e arte.
“Experiência no seu todo” pelo Alto Alentejo
O vinho, a cultura e a natureza podem bem ser o mote da visita, mas há outros motivos para explorar Portalegre e as localidades vizinhas do Alto Alentejo. Só assim se pode viver “a experiência no seu todo”, como recomenda Rui Neto Parada, director do Vila Galé Alter do Chão.
É uma opção de alojamento em ambiente rural, com vista ampla e instalações de topo, mas é também o ponto de partida para visitar a Coudelaria de Alter, a casa-mãe do cavalo puro-sangue lusitano. Fundada há 275 anos para criar cavalos para a corte do rei D. João V, a coudelaria abriga actualmente 400 cavalos e regista uma média de 50 nascimentos por ano. Metade deles são vendidos a estrangeiros em leilão e os restantes ficam na Escola Portuguesa de Arte Equestre.
Durante a semana, os visitantes podem assistir ao trabalho diário na coudelaria, visitar os cavalos nos seus estábulos e ver uma exposição de carruagens do século XIX. O ponto alto, contudo, é a saída da eguada, o momento em que dezenas de éguas são transportadas por uma rua da herdade até aos seus ‘aposentos’.
Dormir num palácio
Se há quem procure um palácio para dormir por estas bandas, deve procurar em Portalegre, no topo da Praça do Rossio. É o Portalegre Palace Hotel, onde os corredores decorados com azulejos originais e espelhos de moldura dourada guiam os hóspedes a um dos 11 quartos amplos, a um Spa, uma piscina e uma charmosa sala de refeições.
A loiça Vista Alegre e a vista para o jardim, os quadros e o relógio de pêndulo compõem a sensação de charme, mas o que distingue a experiência é o serviço cortês e a qualidade da refeição, dos croissants com doce caseiro aos ovos e bacon feitos na hora e servidos à mesa. Um arranque fácil para um dia de visitas em Portalegre e no Alto Alentejo.
Se a “Toada de Portalegre” de José Régio nos ajudou a começar, também nos ajuda a encerrar, recordando o que vimos: “Serras deitadas nas nuvens, / Vagas e azuis da distância, / Azuis, cinzentas, lilases, / Já roxas quando mais perto, / Campos verdes e Amarelos, / Salpicados de Oliveiras (…)”.
O PressTUR viajou a convite da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo e da Câmara Municipal de Portalegre
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